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  • Foto do escritorRestauração Cultural

Paul Johnson e a história da arte

Tenho um monte de livros de história da arte, de diversas épocas e autores, em português, inglês e francês, tanto da história geral da arte como de períodos específicos. Li todos, desde os tempos da faculdade. São belíssimos livros, muitos já esgotados, autores acima de qualquer suspeita.


Mas apareceu-me Art, a new history" de Paul Johnson, que é uma grata surpresa, lançado em 2003 na América e nunca traduzido.


Johnson fala do russo Ilya Repin, por exemplo, que não consta de nenhum livro atual de história da arte porque foi classificado por Clement Greenberg, o grande teórico do Expressionismo Abstrato (Action Painting), como kitsch no ensaio Vanguarda e Kitsch, em 1939. A arte russa antes da revolução praticamente não existe nos livros, exceção feita ao medieval Andrei Rublev, herdeiro da tradição bizantina.


Também a abordagem dos pintores franceses de uma França convulsionada, pós-revolução e pós-napoleônica ultrapassa a mera propaganda a que a arte foi submetida, mas explica a propaganda do regime em vigência até então (and counting).


Este trecho em que fala sobre Millet, filho de camponeses nascido na Normandia, extremamente talentoso, elucida o caminho de propaganda que a análise artística tomou em tempos turbulentos para se estabelecer como regra imposta pelos intelectuais que pretendem determinar o que devemos ou não gostar. Isto é muito comum no Brasil onde a pintura morreu no século XX: lembro-me de um artigo na "The Economist", nos anos 1990, que questionava por que não há pintura no Brasil. É que o talento perdeu espaço para a "arte engajada" que é apenas uma forma banal, totalmente sem originalidade e sem alma, da mais pérfida persuasão.


Vamos às palavras de Paul Johnson:


Millet fez o que acabou se tornando uma enorme reputação com três pinturas monumentais da vida camponesa: "O Semeador", "As colhedeiras" e "O Angelus". Essas três obras, cada uma lindamente pintada com o que só se pode chamar de amor que brota de profundo conhecimento e compreensão, demonstraram a importância da composição e imagens exatas na arte. Elas eram detestadas pelo regime porque se pensava que enfatizavam a pobreza da França rural. Os intelectuais as odiavam porque refletiam as profundas crenças religiosas de Millet. Como o público adorou, todas foram reproduzidos desde o início, inúmeras vezes, e ainda aparecem como ilustrações, cartões de Natal e afins, em todo o mundo, o tempo todo - e sobrevivem.


Então... é desse nível altíssimo de escritores que precisamos, os que explicam o que há por trás das imposições.

*** O Angelus, c. 1850, Musée d‘Orsay, Paris.



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